Da Granja Viana a São Sebastião de bike: Rica Freitas e Edu Luke

Edu Luke e Rica Freitas - Foto: Edu Luke
Parece loucura, mas... é!

Aliás, antes de relatar qualquer coisa a respeito dessa "nossa insanidade", quero consignar aqui uma daquelas coisas que nos acontecem e que reafirmam uma frase famosa que eu desconheço a autoria, porém muito real: "As coisas boas acontecem com o tempo. As melhores, de repente!" Pois foi assim que começou minha amizade com esse fantástico ser humano chamado Edu Luke! Do ano passado pra cá, que PARCEIRO que eu ganhei! Desculpe a ousadia cara, mas muito obrigado meu IRMÃO! É um constante aprendizado compartilhar esse seu astral e estar contigo!

Agora o relato!

Tudo começa (de novo) com um desafio do Strava, (site de relacionamentos entre ciclistas) e dessa vez a proposta era pedalar no minimo 100 milhas (pouco mais de 160 km) num único giro.

Há muito eu vinha querendo ir até a praia pedalando. Sem depender do carro pra viajar, com a força das próprias pernas, sentir a brisa de uma serra no rosto, em meio a mata atlântica e depois finalizar com o clima característico do litoral. Uau! Demais!

Uma semana antes, lancei a proposta para meus amigos pedalantes no Facebook. Alguns se animaram, mas tinham compromissos, afazeres, obrigações e o Edu também se interessou bastante pela proposta desde o início. Ter uma companhia sempre foi um requisito básico para encarar uma empreitada dessa. É mais seguro assim.

Um outro lance importante seria quem nos resgataria junto com as bikes lá em baixo. Elaborei a rota e compartilhei com os caras. Infelizmente a maioria não pode nos acompanhar. Salve, salve meu parceirão Edu Luke que confirmou presença!

A Claudinha, minha esposa, ficou de nos resgatar de carro, porém meu irmão (outro presentaço de Deus em minha vida) se prontificou em ir com sua Van profissional fazer o serviço! Muito mais espaço e conforto para nós e as nossas bikes! Assim minha pequena ficou livre da "roubada" de resgatar os dois fedorentos lá no litoral :-D 

A rota planejada que nasceu com uma proposta de pouco mais de 170 kms
Sábado 23 de fevereiro de 2013: O horário combinado da partida seria as 5:30h na Estrada do Capuava, aqui pertinho de nossas casas.

Acordei as 5:00h, com uma pequena chuva. Em seguida chega o torpedo do Edu: "E essa chuva logo na saída? Melhor adiar para amanhã?". Devolvi o seguinte: "Amanhã não temos quem nos resgate. Acho que dá pra encarar, o que acha?" e ele me devolve: "Bem, vamos indo... Se a coisa ficar feia a gente vê o que faz... Até já!"

Ainda escuro e sob uma fraca garoa, rumamos para o Rodoanel Sul. Ao chegar nesse, a chuva desabou de vez... Chegamos a cogitar a possibilidade de abortar com cerca de 20 kms pedalados. Propus de irmos até uns 50 kms e então, com o dia "mais amanhecido", tomarmos uma decisão definitiva. Afinal olhávamos o horizonte e víamos o céu relativamente favorável/mais limpo na direção do nosso destino.

Ainda assim era uma grande aposta! 

Primeira parada (molhada) aos 55 kms pedalados - Foto: Edu Luke
Ao chegarmos no SAU São Bernardo do Campo (aquelas casas de apoio ao usuário da rodovia) e com pouco mais de 50kms a chuva deu uma grande diminuída. A partir dali tivemos convicção da viabilidade de seguir viagem. Yeah! 

Continuamos pelo Rodoanel, assim acessamos a Rodovia Anchieta e alcançamos uma estrada que era, até então, uma grande incógnita na cabeça da gente. Um local desconhecido, inclusive de nossas viagens de carro. Rodovia Índio Tibiriçá. Foi quando a chuva apertou de novo. Do acesso dela em São Bernardo até a cidade de Suzano, teríamos cerca de 50 kms. A surpresa positiva é que o pavimento era bom, senão pequenos sinalizadores de solo que nos obrigava a ter muita atenção ao passar entre eles, com o agravante do piso molhado. Ainda assim não comprometeu de forma significativa nossa segurança, mas tinha que ficar ligado!

Ao cruzarmos a divisa de Ribeirão Pires com Suzano a chuva parou e o tempo "firmou"! Ufa! Apesar do incomodo da chuva a temperatura estava ajudando a nos pouparmos fisicamente. Primeira parada para comer! 

Falando com a boca cheia... Que feio! - Foto: Edu Luke
Ao sairmos da lanchonete em Suzano, de volta para a estrada e com poucos quilômetros o acaso resolveu aprontar uma de suas surpresinhas. Eu nunca tinha visto, nem passado por isso, mas aconteceu: Quebrou o cabo do meu cambio traseiro.

Fiquei com apenas 2 opções, das 20 marchas possíveis da bike. E duas bem pesadas. Ainda no semáforo do fatídico ocorrido, nos deparamos com um trabalhador e sua bicicleta em trânsito. Pedimos a informação, de onde encontraríamos uma bicicletaria. Ele não só nos explicou, como nos levou até lá! Por isso digo que é muito mais fácil confiar em quem pedala!

Mas como nem tudo são flores, a tal bicicletaria estava fechada... A moradora da casa sobre a bicicletaria nos orientara de onde encontraríamos outra loja do tipo. Agradecemos a ela e ao simpático cycle commuter e pra lá rumamos!

Euro Bike - Foto: Edu Luke
Ao chegar na bicicletaria da foto acima, acabei sendo muito mal educado... Chegamos simultaneamente com um pai e filho e suas bicicletas precisando de grandes reformas. Fui mal educado, pois na ânsia de ser atendido e seguir nossa viagem, me antecipei a eles e disse ao dono da loja que precisava apenas da troca do cabo, de que estávamos em viagem, não ia demorar, blá blá blá...

Claro que ele, o dono da loja, com toda a sua razão lógico-financeira, se interessou em atender primeiro o que lhe seria mais lucrativo. Afinal, eram 2 reformas! Me recobrei da paciência e da capacidade de administrar a ansiedade que não tenho... Fiquei aguardando os tais orçamentos, discussão das alternativas, peças, necessidades, etc.

Sendo empático, no lugar dos clientes das reformas, eu teria dado a minha vez do atendimento aos "malucos" que estavam viajando de bike. Não demoraria e, pra quem teria que aguardar dias para pegar as bikes reformadas, não comprometeria em nada!

Mas não posso condenar a atitude deles. Aí entra a calma e ponderação em momentos de stress. Não me dei conta de que o Edu havia ido pra fora da loja. Pelo smartphone ele, de forma muito sagaz, fez uma busca no google e descobriu que a poucos quilômetros dali havia um conhecido bikeshop! Me chamou de lado e me deu a notícia. Nessa hora o bate papo do pai, filho e dono da loja, já estava nas aventuras que realizaram em épocas remotas. Nossa aventura, minha, do Edu e sua que nos lê, era naquela hora e não podia esperar! Bora pro Nakashima Bike!
Nakashima Bike - Foto: Edu Luke
Nada como estar em meio a malucos como nós! Sacaram nossa urgência sem muitas delongas! Tiraram minha vermelhinha das minhas mãos sem pedir licença a levaram para a oficina sem cerimônia! Por 13 reais e cerca de 10 minutos depois a devolveram com cabo trocado, cambio regulado e corrente lubrificada! Valeu pessoal!
Nakashima Bike - Foto: Edu Luke
Roda que gira, vida que segue, viagem que continua! Bora para Mogi da Cruzes, alcançar a Rodovia Mogi Bertioga!

De novo o acaso resolve agir e poucos quilômetros a frente, dessa vez é a bike do Edu apresentando problemas com sincronismo das marchas. Paramos e aplicamos nosso precário conhecimento, mas de profunda boa intenção, em mecânica de bicicletas. Menos mal que deu certo e ficou "menos pior".  Giramos mais um pouco e alcançamos o centro de Mogi das Cruzes.

Mogi da Cruzes e paralelepípedos! Sim assim mesmo que se escreve!
No centro de Mogi ruas de paralelepípedos, para nos fazer lembrar de pedalar nos paves que calçam belas avenidas e alamedas francesas! (Menos, né Ricardo!?) e novamente um imprevisto! Mais um daqueles fatos inéditos... Com a vibração do piso, meu selim partiu inexplicavelmente! E agora? O que fazer?

Selim quebrado e aquela meia mais abaixo era branca - Foto: Edu Luke
Como é bom ser um autêntico brasileiro e relativamente criativo nessas horas! Era só dar um jeitinho! Precisava de uma fita, do tipo silver tape! Mas onde achar? Bastou mais alguns metros e simples assim achamos uma farmácia! Claro que lá não vendia silver tape. Compramos o maior rolo de esparadrapo que achamos. Banco remendado, roda que gira e viagem que segue!

Banco remendado - Foto Edu Luke
Alcançamos a Rodovia Mogi Bertioga. Hora de avisar o Marcão pra sair de sua base e iniciar sua viagem com a Van para nos resgatar.

A Rodovia é bacana pra pedalar. O clima estava bom e um constante sobe e desce, até chegar no trecho da grande descida. De novo o clima, dessa vez na Serra do Mar, estava muito favorável. A boa visibilidade era determinante para nossa segurança e claro, também a visibilidade dos motoristas para não causarem acidentes conosco. Descemos com cuidados, sem abusos nem excessos de velocidade.

Edu e a Serra ao fundo - Foto Rica Freitas


Paradinha básica para a foto na Serra do Mar - Foto: Edu Luke
Ao terminar a descida sentimos que estavámos de fato em território litorâneo! Um baita calor e ar úmido. A ideia original era finalizar na Riviera de São Lourenço, local bacana, famoso e com boa estrutura.

Meu entrosamento com o Edu é tão grande que nem precisamos falar muito. Bastou olhar pra ele e entendemos que, com pouco mais de 170 kms, por que não esticar até os 200 kms? A Rodovia Rio Santos é quase que totalmente plana, ou com poucos trechos em subidas. Pararíamos em alguma praia mais próxima da mais nova meta traçada: Alcançar os 200 kms pedalados!

Mais uma das casualidades, porem dessa muito mais agradável, que poderia acontecer: Alcançamos os 200 kms, praticamente na divisa de Bertioga com São Sebastião! Passamos um pouco e fizemos um pequeno retorno, de volta a praia da Boracéia e finalizamos a parte ciclística da aventura!

Leitura do GPS:
202,66 kms pedalados!
27,2Km/h de vel. média!
7:27h em cima da bike!
9:14h de tempo total!
982 metros de ascenção acumulada! 

200 kms pedalados! - Foto: Edu Luke
A aventura como um todo se encerra com o Marcão indo nos buscar e levando meu filho Gustavo para atestar "nossa insanidade"!

Depois de almoçarmos, recebo um torpedo para resgatarmos mais 2 amigos ciclistas que fizeram um giro semelhante pela região e tiveram problemas com a interdição da Imigrantes/Anchieta (quedas de taludes)  para retornarem. O nome desses corajosos guerreiros: Denis e Marlon! Valeu pela companhia na volta!

Fica desde já instituída necessidade de ao menos a cada 45 dias repetirmos uma "insanidade" dessas! Quem se habilita?

Valeu pelo prestígio da sua leitura!

Roda que gira! Vida que segue!

Ciclo-Abraços!

Atualizo depois com as minhas fotos, assim que resolver o que ocorreu com o cabo da minha máquina :-(