Enfim chegou a hora de ir para a Bahia e assim enfrentar as duríssimas etapas da Brasil Ride. Vamos a elas:
Etapa -1: 15/10 a 19/10
Sim, houve essa etapa que chamei de "menos 1"... Eu e o Vini nos programamos de viajarmos de carro os pouco mais de 1.800 kms até Mucugê, BA. A saída seria na tarde da quinta feira, dia 17 quando iríamos até Rezende no Rio de Janeiro, onde passaríamos a noite na casa da Patricia namorada do Vinícius. Na manhã da sexta, dia 18, seguiríamos a viagem com previsão de chegada na madrugada de sexta para sábado, dia 19 na arena do evento, pois no dia 20 já haveria a 1ª etapa, o Prólogo!
Um enorme imprevisto aconteceu! Meu filho fora internado com uma crise intestinal aguda que, podia ser ainda uma apendicite ainda na noite de terça feira, dia 15. Havia a possibilidade de uma cirurgia a qualquer momento. Na quarta feira pela manhã a cirurgia não foi necessária, porém ele permaneceu internado.
Na quinta feira, data que nos programamos para iniciar a viagem, estivemos eu e minha esposa conversando com os médicos que o assistiam. Não havia um diagnóstico preciso, porém já começava a possibilidade de descartar a cirurgia. O diagnóstico começou a mudar para uma colite aguda, assim ele permaneceria internado. Fiquei muito preocupado. Como eu viajaria com aquela situação? E se a situação dele piorasse? Fiquei dividido, mas se houvesse qualquer piora do quadro dele, eu cogitei desistir do Brasil Ride. Seria muito doloroso perder todo o planejamento que fizemos. Se seria frustrante para mim, não consegui imaginar, ou mensurar como seria para o Vinícius...
Trabalhei uma parte daquela quinta feira, e minha esposa ficou no hospital o acompanhando. A todo instante colhia as informações a respeito do quadro dele e, dentro das possibilidades, as informações a respeito da evolução eram boas.
Na quinta a noite fui para o hospital. Conversei com minha esposa, minha filha e meu filho, alí internado. Eu precisava de segurança para decidir a viagem. Meu filho se mostrou preocupado com minha situação e minha viagem e disse que ia melhorar. Ele sempre se mostra maduro e forte nesses momentos. A decisão só surgiu com nossa mentalidade positiva nessa hora. Sabíamos que ele ia melhorar e que estava sob bons cuidados. Assim, com o consentimento da minha família, decidi que viajaria, mesmo com meu filho internado. Não foi fácil... Não me senti bem... Mas se eu perdesse a viagem e a prova por adiar a viagem em mais um dia, e ele tivesse alta em seguida? Seria ótimo pela alta já desenhada, mas frustrante demais pela perda de um planejamento feito a tempos... Liguei para o Vinícius e assim decidimos que sairíamos na sexta as 5 da manhã.
Naquela noite de quinta saí do hospital e corri pra casa. Em função das indefinições não havia arrumado totalmente as bagagens, equipamentos e demais itens da viagem. Fiquei até umas 2 da manhã arrumando e acondicionando tudo. Malas, bike, suplementos, peças sobressalentes, roupas, medicamentos, higiene e limpeza, etc. Teria cerca de 2 horas de sono para a chegada do Vinícius em casa para me pegar. Um banho rápido e bora tirar um rápido cochilo.
Suficiente para 7 dias de ultra maratona |
Num esquema de equipe de fórmula 1, arrumamos tudo dentro do carro e pouco antes das 9h já estávamos na estrada. A primeira parada seria em Rezende, RJ, assim a Patrícia daria um beijo no Vini e nos desejaria boa sorte para continuarmos o que eu chamei de: Etapa 0!
Em algum lugar entre Sampa e Rio |
Ainda não concluí a etapa "menos 1", afinal meu filho permaneceu internado.
Chamo de etapa 0, uma das fases mais difíceis de toda a viagem. Transcende a prova em cima da bike, pois são 1.800 kms de Cotia até Mucugê, BA, com o tempo escasso devido a todo os atrasos. Era mais uma pressão sobre nós. O Vinícius é tranquilo como todo bom mineiro e isso me deixava um pouco menos ansioso.
Passamos muito rapidamente em Rezende RJ. Patrícia com seu sorriso e simpatia habitual, nos desejou sucesso na viagem e na prova. Também pediu que voltássemos, principalmente seu namorado, inteiros. A partir dali a viagem seria uma longa jornada de pouco mais de 1.500 kms.
Vini: The Driver |
Observem que da manhã daquela sexta feira até a tarde, apenas o Vinícius havia dirigido. O cansaço inevitavelmente chegou. Quando estávamos cruzando a região central do estado de Minas Gerais, pouco antes de escurecer assumi o volante para o Vini descansar um pouco como passageiro. Estimamos parar por volta das 11 da noite numa cidade já próxima a Bahia que sempre despertou minha curiosidade. Teófilo Otoni, MG, onde nasceu e cresceu minha mãe. Ao chegarmos numa cidade antes, fizemos a parada para abastecimento do carro e para comermos e bebermos. Já eram mais de 10 da noite e eu me sentia bem. Queria chegar o mais cedo possível na arena Brasil Ride no sábado. Propus ao Vinícius de dirigir a noite toda, de não pararmos na terra da minha mãe, mesmo com minha toda a minha curiosidade. A idéia era amanhecermos já dentro do território baiano. Tenho dificuldade de dormir com o carro em movimento. Ele consegue dormir bem, dentro das possibilidades e então assim fomos. Foi cansativo, mas as 6 da manhã passei a direção para o Vinícius já em Vitória da Conquista, BA, já na Rodovia que nos levaria a Chapada Diamantina.
BA 142 na região de Ituaçu, Bahia |
A rodovia BA 142 continua por dentro da Cidade de Barra da Estiva, BA |
Serra do Sincorá, vista da BA 142 |
Enfim, Mucugê BA |
Mesmo exaustos, retiramos parte dos equipamentos do carro. Montamos as bikes e partimos pra conferir os ajustes se permaneceram intactos ao longo da viagem.
Eu praticamente não tinha dormido e mesmo assim combinamos de fazer uma volta de reconhecimento do prólogo. Seria importante para nos ajustar ao clima, ambiente e entender o nível da etapa e, porque não, encontrar macetes para superar uma das mais técnicas das etapas.
Nosso objetivo pelos próximos 7 dias |
Ao começar a pedalar, o suor veio ao rosto e todo o cansaço da viagem, como num passo de mágica, desapareceu. Curti demais o prólogo e seus pouco mais de 20km. O Vinícius teve a corrente partida quando foi superar uma pedra, mas ainda bem que isso ocorreu no reconhecimento. Preparado que estávamos, rapidamente colocamos um power link e terminamos o reconhecimento. Assim finalizamos a Etapa "menos 1" e também a 0!
Link do Strava: Strava Ride
Depois de uma tarde agradável, retiramos nossos kits de prova, escolhemos nossas barracas, tomamos banho, (Mais de 36 horas depois de iniciada a viagem e com um plus, mais 2h de pedal...) uma merecida noite de descanso, mesmo que na pequena barraca que foi absurdamente revigorante.
Selfie na Barraca com toda a tralha necessária para a prova |
Etapa 1: Prólogo
Perfil da Prólogo |
Bora pra largada!
Largada! |
Início do trecho off road |
Travessia de riachos |
Link do strava: Strava Ride
Das 71 duplas e pra quem tinha como objetivo principal completar a prova, fizemos um excelente prólogo! |
Vídeo Oficial da Etapa
Slide Show da Etapa
Essa é a etapa mais longa de toda a prova. Um deslocamento entre cidades da Chapada Diamantina. Era aí que todos os meus temores estavam. Como seria pedalar de MTB mais de 147 kms e escalar mais de 3.300 metros de altitude acumulada? Será que eu teria caimbras? Será que eu ia passar mal? Será que eu iria aguentar? Nunca fizera nada próximo disso, mas treinei o suficiente para encarar!
Amanhece em Mucugê |
A largada ocorreu ainda amanhecendo e debaixo de uma fina garoa. Tínhamos em mente agrupar em algum pelote na largada para ganharmos tempo e nos pouparmos do esforço. Acontece que ao encaixarmos em um grupo, notei que ainda estava com a barriga muito cheia do café da manhã. O Vinícius estava muito confortável e eu acima do que entendia para o começo da etapa. O avisei que minha frequência estava acima dos 164 bpm e desconfortável com a barriga muito cheia. Nessa hora faz toda a diferença de trabalhar em time e, mesmo com capacidade de sobra, o Vinícius teve toda a paciência em deixar o pelote e passar a fazer o meu ritmo.
Passado não muito tempo, a comida foi digerida e mais confortável consegui melhorar a performance, mas não o suficiente para estar próximo do que estava desenvolvendo o Vinícius. O homem é uma máquina! Ainda assim, seguíamos rumo ao Vietnã!
Um coisa chata nos aconteceu... Num dos trechos de alta velocidade, em curva a esquerda, quando eu estava a frente o Vinícius se perdeu e sofreu um acidente. Foi assustador pelo barulho que ouvi e, ao me virar, ver a quantidade de poeira que seu corpo e a bike levantaram enquanto esfregavam pelo solo.
Talvez a calibragem do pneu dianteiro não estivesse adequada, ou a própria aderência do pneu não era propícia para aquele terreno. Isso já era passado. Hora de conferir e superar os estragos.
Ajudei o Vinicius a lavar e limpar as não poucas escoriações na perna esquerda dele. Temi por ele não suportar as dores e acabarmos nossa corrida por alí. Vinícius se mostrou muito forte, mesmo machucado e com falta de confiança ainda caiu mais 2 vezes sem maiores consequências mais a frente. Ainda assim fechou a cara, cerrou os punhos, soltou um palavrão, mas seguiu firme e forte! Recuperou a confiança!
Na saída do Vietnan, tive meu momento de glória! Fui fotografado dentro do riacho da saída do trecho e essa foto girou o mundo pelo site internacional de ciclismo www.cyclingnews.com. Sim, eu estava exposto ao mundo do MTB.
Minha foto mundial! |
Finalizada a serra, ainda lá do alto já pude avistar a cidade de Rio de Contas, aquilo teve um efeito absurdo na motivação e descemos os últimos 5 kms para finalizar o meu maior desafio em um dia de MTB!
Confraternizando a chegada com os amigos Emerson Furlaneto e Luis Mota |
Link do strava: Strava Ride
Era de se esperar que não manteríamos a performance e posição do prólogo, mas ainda assim estávamos plenamente satisfeitos com a meta cumprida e seguimos vivos na meta de sermos finishers! |
Vídeo oficial da etapa
Slide show da etapa
Etapa 3: XCO - Rio de Contas
Essa é a única etapa que as duplas podem correr individualmente. Isso mesmo, cada atleta poderia fazer no seu ritmo, porém o tempo de ambos é somado.
Mapa e perfil altimétrico da etapa |
Parece uma punição dura, mas ao analisar que isso vale para todos, acaba sendo um método de qualificação das duplas, mais justo.
Nessa etapa é que encaramos o Downhill da igreja, onde o padre nos molha com água benta, cruzamos um riacho, passamos por entre as barracas, ou seja, é um XCO com situações muito interessantes!
DH da Igreja |
Subidinha encardida pra alcançar a Igreja |
Um dos trechos do circuito. As pedras são brancas e lindas paisagens de Rio de Contas puderam ser apreciadas |
Avancini impondo uma de suas primeiras vitórias em um competidor World Cup, Kohei Yamamoto |
A grande diferença de tempo se dá pelas voltas acima do líder |
Vídeo oficial da etapa
Slide Show da etapa
Etapa 4: Rio de Contas
A quarta e quinta etapa tem largada e chegada no formato trip trail, saindo e chegando no mesmo ponto.
Nessa etapa nosso sofrimento foi maior que o planejado. Seguimos o script e estratégia que vinha dando certo. Comer bastante no café da manhã e prepararmos sanduíches para comermos de almoço nas etapas longas. Assim fizemos. A surpresa começou quando com a km informada pela organização do posto de hidratação, chegamos e não havia nada... Mais 2km e nada... Mais 5km e nada... Como saí com água apenas na mochila, ela secou... Eu honestamente não esperava ter pane seca em nenhuma etapa. Me irritei muito!
Os planejados 84km se tornaram na verdade mais de 102km com o erro da organização |
A sequencia de single tracks em descida dessa etapa é alucinante!
Descidas técnicas e muito perigosas |
Um calor absurdo, mas atenuado com vegetação |
Vini dando aqueles empurrõezinhos básicos no final da última serra |
Um calor que convida a empurrar a bike na subida... |
Mais um pouco de força... |
Quase vencida a subida... |
Sim, mais uma subida vencida! |
40 graus e a forma encontrada de resfriar |
Parece que atenuei um pouco a tristeza dele. Mas não foi difícil perceber a cara de sofrimento de inúmeros bikers, quando não, o péssimo humor pela "agradável surpresa" de pedalar quase 20km a mais do que o planejado.
Também notei que a metade da sola da minha sapatilha esquerda ficou pelo caminho. Temi que a outra parte e que ainda permitia clipar, também ficasse pelo caminho e prejudicasse as demais etapas. Uma tenda de um bike shop de Brasília resolveu o meu problema com o último par de sapatilhas com meu tamanho de pé. Ufa!
Ainda no jantar pude constatar a ausência de música nos minutos que antecedem a premiação, resumo do dia e o briefing da próxima etapa. Mario Roma e demais membros do seu staff, se apresentaram e colocaram um sonoro e longo pedido de desculpas pelo erro. Não conseguiram identificar onde aconteceu, mas de forma unânime e até que bem humorada, todos nós perdoamos o erro. Afinal, não é sempre que podemos pedalar na espetacular Chapada Diamantina!
Link do Strava: Strava Ride
Um pneu furado e sofrimento da etapa se refletiu no tempo de prova |
Um pouco do que descrevi do cenário Diamantino, pode ser visto nas imagens
Slide show da etapa
Etapa 5: Rio de Contas
Mais um dia e o último genuinamente em Rio de Contas, era a certeza de mais um dia de muito calor e de uma etapa muito dura a frente com seus 94km.
Perfil da etapa 5 |
Essa é a etapa onde mais se carrega a bike. Isso mesmo amigos, levar a bike nas costas é uma necessidade constante, tal a dificuldade do terreno em subida que encontramos. Quando a sorte está do seu lado, tudo corrobora para dar certo. A sapatilha que troquei na etapa anterior foi perfeita para superar a quantidade de degraus e pedras que escalamos.
Dessa vez bastante tráfego nos singles. Note o calçado novo do atleta! |
Os cenários incríveis da Chapada! |
Eu sorria e o Vini mais sério. Notem as escoriações na perna e braço dele, consequências do acidente da segunda etapa |
Ah! Como é bom descer! |
Mais um cenário fantástico da Chapada |
É sempre um prazer, mesmo depois de anos de pedal, poder sentir o prazer de vencer as distâncias com nossas MTB |
Finalizamos essa etapa, a última com largada e chegada em Rio de Contas. A próxima etapa, ainda muito dura, seria o retorno para Mucugê e começar a assimilar que o sonho de concluir o desafio de sermos finishers da Brasil Ride, mesmo com toda a dificuldade que ainda tínhamos pela frente, estava sim cada vez mais real. Sem problemas mecânicos, os corpos cansados, mas a cabeça muito boa para entender que o pior já teria ficado para traz.
Link do Strava: Strava Ride
Ainda vivos na quinta etapa! |
O vídeo e as incríveis imagens da quinta etapa
Slide show da etapa 5
Etapa 6: Rio de Contas a Mucugê
Penúltima etapa! Talvez a segunda mais dura, devido a distância, ao calor, ao cansaço acumulado, mas completamente motivante em saber que estávamos a 2 passos de concluir a Brasil Ride! Mas esse passo ainda requereria ainda 143km.
Perfil da etapa 6 |
Por ser a nossa primeira ultra maratona, é difícil descrever o turbilhão de sensações, pensamentos e medos que vivemos nesses dias. O sorriso no rosto, a confiança pelo que superamos, suplanta o medo e nos faz pensar que somos homens muito fortes. Uma contemplação de saúde maravilhosa e ao fazer uma rápida retrospectiva dos tempos anteriores a pratica do esporte, perceber que somos mais fortes que maioria das pessoas com quem convivemos. Ao mesmo tempo, todo esse orgulho tem que ser guardado. É inútil pensar assim e viver de forma orgulhosa. Não vai ser suficiente se um erro for cometido, dispensar um pequeno momento como a hidratação, a alimentação, uma distração num trecho técnico, ou desafiar desmedidamente nossos limites. Deve sempre haver muito respeito. Consigo, com o outro e com a Natureza. Dessa forma, encarando os desafios de forma planejada, dedicada e respeitosa, as conquistas nos sorriem em nossos caminhos!
Juntos com a dupla Juliano e Juliana. O Vini, bom samaritano, consertou o pneu da Juliana |
Encaramos trechos em subidas com temperaturas de 45 graus. Sensações horríveis começam a tirar a concentração. Me recusei a beber água, pois nem na mochila e nem nas garrafas, havia água fresca. Isso teve consequências.
Me recusei a beber água em alguns momentos cruciais da prova. Com mais de 45 graus a água mais parecia um chá. Um chá muito indigesto, com gosto do plástico da garrafa e da mochila de hidratação. Num determinado momento as "luzes" quase acabaram. Uma escuridão tomou conta da minha visão. Alí eu tive muito medo! Cheguei a me ver derrotado depois de mais de 500km pedalados nos últimos dias. Me deu muito medo.
Nessa hora, pra quem tem a sorte de ter um excelente parceiro, entende o significado da palavra time! Isso mesmo, nossa dupla era um time, que joga junto, que joga unido! O Vinícius engrossou a voz e com palavras de ordem, me ordenou descer da bike. Me perguntou se eu conseguia andar. Cambaleante, sem parar de me movimentar, caminhei ao lado da bicicleta, quando notei que ele a tirou de mim. Ele, pedalando, ia levando minha bike a frente, e eu reeditando uma cena peculiar a série walkind dead, cambaleava olhando ele abrindo distância, mas eu seguia caminhando, debaixo de um sol absurdo, muito quente, mas eu não queria ver a derrota, sequer de na minha imaginação.
Notei que após pouco mais de uma centena de metros o Vinicius desceu da bike, abria a mochila e preparava algo na minha garrafa. Mesmo com a água quente da mochila dele, ele dissolveu um sachê de eletrólitos e sais (SUUM - Nosso apoiador de suplementos para a prova) e quando eu o alcancei me pediu para beber o máximo que pudesse. Assim o fiz e continuei caminhando em seguida, enquanto ele empurrava minha bike. Fui percebendo que eu estava me recuperando. Minutos depois já me senti seguro em voltar a pedalar. O vento, mesmo que quente, começou a resfriar meu corpo suado e logo a seguir eu voltei ao meu estado normal.
As infinitas retas e os grupos que se formam para poupar energia |
E da-lhe mais retas! |
Mais um pequeno grupo |
Ao tirar uma das mãos do guidão e abraçar o Vini, não percebi o abraço dele. Pior que isso, percebi que ele começou a abaixar e quando nos demos conta, estávamos os dois, estatelados no chão. Isso mesmo! Nós caímos a metros da linha de chegada! Enquanto desenroscava os pedais da sapatilha que ainda estava clipada, notei que o Vini estava mais enroscado que eu. O locutor gritava "PARAMÉDICOS!!!" e em seguida sugeria que estávamos passando mal e que era uma situação de emergência. Muito constrangedor, mas ainda assim, nos levantamos sorrindo (o Vini nem tanto... acho que ele queria me matar pela minha ideia) e até que nos saímos bem dessa! Depois de tudo o que passamos, isso tiraríamos de letra, você não acha?
Isso mesmo! Finalizamos a penúltima etapa! Falta muito pouco! Mais 67km no dia seguinte, sétima etapa e então seremos finishers da Brasil Ride!
Link do Strava: Strava Ride
O reflexo do tempo perdido foi visível na etapa |
Vídeo da etapa 6
Etapa 7: Mucugê
Eis que o derradeiro dia chegou!
Perfil da última etapa |
O Pablo, nosso embaixador da Orphans Africa, teve seu parceiro desqualificado e faria a etapa, mesmo não estando mais em condições de ser considerado finisher. Isso mesmo, só é finisher se a dupla completar todas as etapas. Então ele propôs de fazermos a etapa em trio! Vestimos o mesmo uniforme e isso seria interessante!
Acontece que o Pablo tem um ritmo de pedal mais forte que o do Vinícius e obviamente mais forte que o meu.
A alegria de estar prestes a concluir a Brasil Ride, era tanta que eu não medi muito os esforços para acompanhá-los! Fomos muito fortes! Eu sofria a cada subida, mas me superava nos single tracks, chegando as vezes imprimir o ritmo deles!
Chegando ao ponto de apoio. Faltam 20km! |
Louco, vidrado, pirado em single tracks! |
Assim, em trio, cruzamos a linha de chegada!
Indescritível, sem preço, finalizamos nossa Brasil Ride! |
Acaboooouuuuuu! |
A ajuda do Pablo nos fez superarmos a nós mesmos e finalizarmos em 40º a etapa! |
Vídeo da etapa 7
Resultado Final Categoria OPEN |
Etapa 8: Agradecimentos
Familiares: Minha esposa, a Claudinha. Suportou e suporta todos os meus defeitos como homem e também meus exageros, inclusive com as bicicletas. Te amo! Meus filhos Isabela e Gustavo que além de terem muita paciência com minha ausência nos meses de treinos e também aos fins de semana, ainda se veem no esporte e vez ou outra pedalam comigo! Meus irmãos e irmãs e todos os familiares mais próximos que acompanharam essa minha "insanidade".
Dupla/Parceiro: Vinícius Martins. Esses raros amigos que a vida nos presenteia! Baita cara, baita ser humano, baita coração, te levarei sempre comigo no lado esquerdo do peito, lá dentro do coração. Assim como diz a canção! Sem você, eu honestamente não sei se teria conseguido!
Amigos: Não vou citar nomes, para não ser injusto. São muitos caras! Uns que me orientaram no meu início no esporte, alguns de perto, outros de longe. Alguns que me acompanharam em alguns treinos e tiveram a paciência de seguir a minha planilha de treinos e frequência cardíaca. Alguns que incentivaram durante a preparação, outros que mesmo com toda a precariedade de sinal de internet mandavam whatsapp, facebook, twitter, instagram e também a cada um daqueles que duvidaram que eu terminaria. Vocês foram muito importantes, pois me fizeram duvidar de mim mesmo e me superar a cada etapa.
Treinador: Cadu Polazzo. O cara é uma fera, que fala baixinho, com minúcias, mas muita profundidade e que é capaz de extrair resultados fantásticos mesmo de caras limitados como eu, que comecei no esporte a menos de 7 anos, que concilia uma agenda profissional, familiar e social muito intensa. Ainda assim treina a seleção brasileira, os atletas profissionais e por diversas vezes esteve pessoalmente treinando e acompanhando meus treinos no Parque Cemucam. Nunca vou esquecer das suas palavras em nossa última mensagem, na véspera da viagem: "Vai voltar finisher. Pode acreditar!" Você é de verdade um Mestre!
Orphans Africa / Pablo Rodriquez: Pela acolhida da ONG, pelas dicas, pelo carinho e amizade gratuita oferecida, os uniformes, o café na sua casa quando fui retirá-los, além da suplementação SUUM e Glicofast que fizeram toda a diferença nesses dias de batalhas.
Meu Mecânico de Bike: Daniel Aizawa! Profundo conhecedor das minhas necessidades ciclísticas e que prepara sempre as minhas bikes de forma magistral. Minha bike passou completamente ilesa por 614km na Chapada Diamantina.
A minha fé: Sou respeitador de todas as religiões e pensamentos, mas não vou fugir da minha fé Cristã e ao meu Criador que se põe acima de absolutamente tudo o que tenha escrito! É Ele que me dá saúde e condições de sustentar a mim, minha família, zelar pelos amigos, pelas coisas justas, perfeitas e honestas. Peço a Ele que me conserve e me fortaleça dia a dia nesses preceitos.
Também a você que se deu o trabalho de ler até aqui e, que não é menos importante, seja amigo antigo, amigo novo, ou que me conhece de vista ou até que nem me conhece! A todos, Muito Obrigado!